Nas aulas de música, independente da faixa etária dos(as) estudantes, deve haver espaço para a composição e improvisação. Tanto na educação infantil quanto no ensino fundamental e médio, a experimentação é um aspecto importante para desenvolvimento musical de cada estudante.
A partir da exploração das possibilidades sonoras, da identificação pessoal com determinados sons e aprendizado das técnicas, é possível estabelecer um ambiente que favoreça a criação. As produções podem ocorrer através de práticas com instrumentos musicais, percussão corporal ou pelo uso da própria voz.
No post de hoje, trago o plano de aula e relato de uma prática realizada com estudantes do 1º ano do ensino médio. Essa mesma prática já foi desenvolvida com crianças do 4º, 5º e 6º ano do ensino fundamental e resultou em criações musicais super interessantes e feedbacks bem positivos por parte dos(as) alunos(as). Com algumas adaptações, podemos ainda trabalhar essa proposta na educação infantil.
PLANO DE AULA
Tema: Prática de conjunto, improvisação e composição coletiva |
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Objetivo geral: Promover experiências musicais através de atividades de criação e improvisação utilizando a voz, os sons corporais e/ou instrumentos musicais. |
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Objetivos específicos:
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Conteúdos |
Procedimentos |
Percussão corporal Canto Compasso quaternário – Método d’O Passo Prática de conjunto Improvisação musical Composição coletiva |
OBS: A frase musical que cada aluno(a) criar deverá ser repetida por este(a) durante todo o processo, até que a última pessoa do círculo dê sua coloboração e o(a) professor(a) faça o gestual sinalizando o término da música. SUGESTÃO: Gravar as produções da turma e escutarem juntos e debaterem posteriormente.
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Recursos: Instrumentos musicais diversos, gravador de áudio (opcional) |
RELATO DA PRÁTICA
Iniciamos a aula dialogando sobre as diversas possibilidades sonoras do nosso corpo. Sugeri aos alunos que citassem alguns exemplos de sons musicais que podemos produzir com o corpo. Após as prossibilidades citadas pela turma, praticamos alguns movimentos de percussão corporal (estalos de dedos, palma concha, palma estrela, percussão no peito).
Na sequência iniciamos a atividade de improvisação. A turma, composta por 31 adolescentes, se posicionou em círculo. Começamos a marcar a pulsação com os pés (compasso quaternário)*. Definimos uma célula rítmica que serviria de transição entre uma improvisação e outra, ou seja, ao final de cada improvisação, toda a turma tocava a célula rítmica combinada preparando-se para ouvir a improvisação do(a) próximo(a) colega.
* OBS: Já havíamos trabalhado em aulas anteriores a marcação de compassos através do método d’O Passo (Lucas Ciavatta). Para saber mais, acesse: https://www.opasso.com.br/.
E assim, cada aluno(a) criou uma frase musical. Alguns optaram por percussão corporal, outros fizeram sons vocais (beatbox) e outros cantaram pequenas linhas melódicas. No início, mostraram-se inibidos, dispersaram-se em meio a muitas risadas a cada tentativa dos colegas, mas aos poucos foram se concentrando, se apropriando da proposta e interagindo com mais segurança e desenvoltura.
A segunda parte da prática contou também com a utilização de instrumentos musicais. Cada aluno experimentou livremente os instrumentos musicais por alguns minutos e escolheu um de sua preferência para tocar. Dentre os instrumentos musicais disponíveis estavam: flautas, clavas, chocalhos(confeccionados pelos alunos, com materiais recicláveis), um pandeiro, um agogô, algumas percussões de efeito, um cajón, um bombo leguero, um violão, três escaletas, um xilofone e alguns copos plásticos utilizados para práticas de Cup songs.
Começamos a marcar o pulso com os pés e cada aluno foi criando um som com seu instrumento para complemetar o som dos colegas. Nesse momento não foi estipulado uma ordem. A combinação prévia foi que cada aluno(a) poderia contribuir quando se sentisse preparado e deveria continuar repetindo sua frase musical até o final da composição. Iniciei tocando um ritmo no ukulelê, na sequência um aluno complementou com uma frase no violão. Aos poucos algumas percussões foram surgindo, e logo podíamos ouvir algumas melodias das flautas, escaletas e xilofone. As criações foram diversas e singulares.
Concordo com o autor Keith Swanwick, quando diz que:
[…] a composição (invenção) oferece uma grande oportunidade para escolher não somente como mas o que tocar ou cantar, e em que ordem temporal. Uma vez que a composição permite mais tomadas de decisões ao participante, proporciona mais abertura para a escolha cultural.[…] Ela dá ao aluno uma oportunidade para trazer suas próprias ideias à microcultura da sala de aula. (SWANWICK, 2003, p. 68).
Repetimos a atividade mais algumas vezes e a cada repetição o grupo mostrou-se mais comprometido com a prática e motivado a tocar. Ao final da aula dialogamos a respeito da experiência e o que cada um sentiu realizando a prática. Foi possível perceber a empolgação e alegria da turma durante e após o término da aula.
Quem se propõe a aprender música, espera por um resultado bem específico. Esse resultado no geral não é tão rápido, no entanto, fazer música é o principal objetivo de quem aprende música. Sendo assim, não vejo outra maneira de estimular o aprendizado musical, se não através do fazer, da prática. E na minha opinião, poder fazer música em grupo e além disso, poder criar em grupo traz uma riqueza de aprendizados e sem dúvida é uma experiência muito valiosa. Oportunizar momentos de experimentação e livre criação em sala de aula, incentivando, valorizando e aprendendo com as produções artísticas de cada um é, ao meu ver, investir no desenvolvimento integral do ser humano e respeitar as experiências, potencialidades e bagagem que cada um carrega consigo.