Com base em experiências musicais no espaço hospitalar e em bibliografias sobre essa temática, gostaria de trazer nesse texto algumas reflexões: sobre a finalidade da música nos hospitais e o papel atribuído ao educador musical nesse contexto. Aproveito ainda para levantar um questionamento: As práticas musicais no hospital tem caráter pedagógico, terapêutico ou consistem em atividades de entretenimento?
Trabalhar com a música dentro do hospital, além de ser uma experiência intensa que exige muito controle emocional, nos permite refletir sobre as responsabilidades que temos com o outro e o quanto é importante voltarmos nosso olhar para as necessidades dos nossos semelhantes. Na minha opinião, voltar-se ao próximo com empatia, solidariedade, atenção e carinho são nossas responsabilidades como seres humanos. Levar a música ao ambiente hospitalar nos remete a uma vivência de entrega, doação e troca de energias, onde temos a oportunidade de tornar o hospital um espaço mais humanizado.
Na profissão de educador(a), a atenção ao outro é uma característica evidenciada, pois esse(a) profissional é mediador(a), preza pelo desenvolvimento de seus alunos e alunas e procura meios para viabilizar que esses(as) atinjam seus objetivos, respeitando o processo, as habilidades e dificuldades de cada um. Como educadora musical atuante em hospitais, enxergo os(as) pacientes da mesma maneira, como alunos(as), que carregam em suas bagagens vivências e saberes para compartilhar.
As pessoas internadas não são nossos pacientes. Há profissionais da saúde responsáveis pela recuperação dessas pessoas. Porém nós músicos e educadores musicais, contribuímos desempenhando práticas específicas dentro da área de cuidados paliativos. Sobre a responsabilidade do educador musical no espaço hospitalar, concordo com Leão e Flusser:
“Embora desvinculados da responsabilidade de curar, cuidar ou, mais precisamente da obtenção de quaisquer efeitos terapêuticos (embora cientificamente evidenciáveis), esses músicos atuam verdadeiramente como agentes de promoção da saúde, fazendo residir na música (fundamental por si só) a sua estratégia, visto que a promoção da saúde não é restrita aos profissionais da área, mas sim, é responsabilidade de cada cidadão no âmbito de sua atuação profissional, se concebermos a saúde como um bem socialmente compartilhado e sobre o qual cada ser humano tem sua parcela de contribuição em relação ao outro.” (LEÃO; FLUSSER, 2008, p. 75).
Músicos e educadores musicais que atuam em hospitais, clínicas geriátricas ou centros de apoio a pessoas com deficiência, estão inseridos nesses ambientes para propor vivências musicais, integrar, incentivar a participação de todos e acima de tudo promover a aproximação, a interação social e a valorização do indivíduo.
A música com seus inúmeros benefícios para o desenvolvimento humano, desempenha múltiplas funções dentro dos espaços de saúde. A música é um meio de entretenimento nesse contexto, pois desvia, mesmo que por alguns instantes, o foco da dor e da doença e ajusta as lentes para os momentos de lazer, descontração e interação social. Ela também tem caráter pedagógico, pois toda a vivência compartilhada resulta em algum aprendizado. Mesmo não tendo habilitação profissional* específica para aplicar a música como terapia, sinto-me segura em dizer que práticas musicais no hospital podem sim ter efeitos terapêuticos, pois promovem o bem-estar dos pacientes de um modo geral. A música tem o poder de provocar diversas sensações, despertar emoções, memórias, risos e lágrimas.
“Sem música a vida seria um erro.”(Friedrich Nietzsche)
*NOTA: De acordo com a proposta do blog, escrevo com base em minhas vivências e aprendizados. Minha experiência musical até o momento é nas áreas da performance e educação, ou seja, ainda não tenho habilitação profissional na área da saúde, e por esse motivo meu ponto de vista não abrange aspectos da música como terapia.