Hoje decidi escrever sobre os efeitos da música na manutenção e recuperação da saúde de pacientes com Alzheimer. No texto cito alguns estudos e projetos que visam melhorar a qualidade de vida de pessoas diagnosticadas com essa doença.
Há alguns dias uma amiga muito querida me contou que sua mãe tem apresentado falta de memória, e como isso tem afetado a vida de toda a sua família.
Pequenos esquecimentos são comuns a todos nós e há diversos fatores, físicos e emocionais, que podem afetar a nossa memória. Por isso, é preciso estar atento(a) e observar com que frequência esses esquecimentos ocorrem. Se são frequentes e progressivos, é importante buscar ajuda médica.
Imagine uma pessoa saudável, um adulto ativo, que aos poucos começa a demonstrar pequenas perdas de memória. Em um dia, esquece o nome de um amigo, confunde uma pessoa com outra, esquece o caminho para determinado lugar, pega o ônibus e esquece onde precisava descer e acaba se perdendo pela cidade. Esquece o que ia comprar no mercado, não lembra de tomar uma medicação receitada pelo médico ou se confunde com qual dia da semana é. Esquece que deixou uma panela no fogo ou não se lembrou de fechar a porta ao sair de casa.
Em alguns meses passa a demonstrar dificuldade em se comunicar com clareza, confunde acontecimentos do passado com situações atuais. Essa mesma pessoa, que até então era independente e ativa, começa a necessitar de ajuda para atividades rotineiras, como por exemplo alimentar-se e higienizar-se. Aos poucos, suas recordações de momentos vividos vão se apagando e ficando cada vez mais raras. Perde a lembrança de sua própria identidade, sua história de vida e com isso também se apaga o brilho no olhar.
Essa é a triste realidade de muitos idosos. Segundo a Associação Brasileira de Alzheimer, estima-se que há mais de 35 milhões de pessoas com a Doença de Alzheimer no mundo. A maior incidência é em pacientes idosos, porém há casos de desenvolvimento precoce da doença.
O Mal de Alzheimer não escolhe gênero, etnia ou condição social. Ele pode acometer qualquer pessoa. É uma doença neurodegenerativa que causa perda das funções cognitivas (memória, orientação, atenção e linguagem).
Quando diagnosticado no início, é possível buscar recursos terapeuticos para retardar o avanço do Alzheimer e ajudar os pacientes e familiares a lidarem melhor com os sintomas dessa doença. E um dos recursos, que tem demonstrado resultados impressionantes é a música.
A música contra o Alzheimer
Há inúmeros estudos científicos que comprovam os benefícios da música para o cérebro.
Eu gostaria de destacar aqui as pesquisas realizadas pelo neurologista britânico Dr. Oliver Sacks. Provavelmente ele foi um dos neurocientistas mais influentes do nosso tempo. Lamentavelmente, Oliver Wolf Sacks faleceu em 2015 por conta de um câncer, deixando um importante legado pra humanidade. Dr. Sacks escreveu vários best-sellers e seu trabalho é mundialmente reconhecido e respeitado.
Veja algumas das obras do Dr. Oliver Sacks que abordam os efeitos da música no cérebro. Vale muito a pena conferir.
Alucinações musicais (Musicophilia, 2007)
Tempo de despertar (Awakenings, 1973)
O livro Awakenings deu origem ao filme de mesmo nome, estrelado por Robin Williams e Robert De Niro.
Segundo pesquisas realizadas por neurocientistas do Instituto Max Planck de Neurociência e Cognição Humana de Leipzig, na Alemanha, a memória musical é armazenada em áreas do cérebro diferentes daquelas onde ficam outras memórias. Isso explica por que uma pessoa que esquece o próprio nome ou não consegue mais se comunicar é capaz de recordar e cantarolar uma canção que a emocionou no passado.
As memórias tem uma relação muito forte com experiências emocionais e a música tem o poder de despertar em nós diversas sensações. Através da música somos capazes de reviver momentos marcantes em nossas vidas, acessar nossas emoções e lembranças.
Concordo com a fala do Dr. Oliver Sacks quando disse que “a música pode nos tirar da depressão ou nos levar as lágrimas – é um remédio, um tônico, um suco de laranja para o ouvido. Para muitos pacientes neurológicos, a música é ainda mais – ela pode dar acesso, mesmo quando nenhum medicamento consegue, ao movimento, ao discurso, à vida. Música não é um luxo, mas uma necessidade”.
Para conhecer um pouco mais sobre os efeitos da música em pacientes com Alzheimer, não deixe de assistir:
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Alive Inside
Esse documentário é impressionante e muito comovente.
É sobre o trabalho do assistente social Dan Cohen, fundador da organização Música e Memória. Mostra resultados obtitos através da música com pacientes diagnosticados com depressão e perda de memória devido ao Alzheimer e outras doenças.
No documentário contamos ainda com os depoimentos do neurologista Dr. Oliver Sacks e do músico Bobby McFerrin.
Conheça também esses lindos projetos:
Esse projeto criou uma campanha nas redes sociais chamada #musicasparasempre. A ideia é mobilizar pacientes, famílias e músicos voluntários a criarem músicas biográficas, contando a história de pessoas diagnosticadas com Alzheimer. Dessa maneira, pretende-se preservar ao máximo as memórias afetivas dessas pessoas. Uma iniciativa linda, repleta de sensibilidade. Acesse o site e conheça melhor o projeto. (www.musicasparasempre.com.br)
Esse é um projeto sem fins lucrativos, que já chegou a mais de 170 países ao redor do mundo, dentre eles, o Brasil. Sua proposta é utilizar a música como ferramenta para “despertar” pacientes com Alzheimer e outras demências. O projeto também trabalha com o conceito de músicas autobiográficas. Acesse o site e conheça mais a fundo o trabalho realizado. (www.musicaparadespertar.com)